terça-feira, 14 de outubro de 2014

Ao senador Delcídio: palavra necessária

Ruben Figueiró*

Por ser a inauguração do programa político eleitoral em segundo turno, veio-me a curiosidade de assisti-lo. De início, causou-me espécie ouvir as manifestações do candidato Delcídio do Amaral Gomes, por quem, reitero, tenho apreço pessoal e boa convivência no Senado. Delas (declarações) me permito alguns reparos, tais como quando afirma dos bilhões de reais que carreou para nosso Estado, também em obras distribuídas por todo território sul-mato-grossense.

Realmente não se pode negar a diligência, também seu prestígio no Palácio do Planalto, para alavancar benefícios ao Estado. No entanto, ele há de reconhecer o intenso trabalho de toda a bancada federal no mesmo sentido, sobretudo nesta Legislatura – da qual sou testemunha.

As presenças atuantes e prestigiosas do senador Waldemir Moka, enquanto lá esteve a ex-senadora Marisa Serrano, do senador licenciado Antonio Russo, como dos diligentes deputados Reinaldo Azambuja, Vander Loubet, atual coordenador, Luiz Henrique Mandetta, Antônio Biffi, Geraldo Rezende, Fábio Trad, Marçal Filho, Akira Otsubo e o hoje licenciado Edson Girotto constituíram-se na força motriz para destinação dos recursos orçamentários e extra orçamentários. A viabilização de recursos para o Estado é um trabalho coletivo, que envolve inclusive vereadores, prefeitos e governadores.  Esta é a cristalina verdade! 

Outra declaração do eminente senador candidato também me causou surpresa ao profligar que o PSDB, meu partido, deseja retirar de Mato Grosso do Sul, transferindo para o estado de São Paulo, os recursos do ICMS oriundos da passagem pelo nosso território do gás natural pelo gasoduto Bolívia-Brasil (Gasbol).

É bom rememorar que essa foi uma realização do governo Fernando Henrique Cardoso. Sinceramente, não posso aquilatar de onde surgiu na memória privilegiada do prezado senador tal absurdo. Do tempo que estou no Senado, jamais ouvi na tribuna ou fora dela protestos seus contra tal estranha intenção. Se tal acontecesse, o PSDB de Mato Grosso do Sul, pela palavra do Reinaldo e da minha, estaria integralmente solidário ao atento senador.

Até o cidadão mais simples reconhece os exageros verbais, intencionais ou não, que se cometem numa campanha eleitoral. Dai os cuidados, inteligência e sobriedade, sobretudo dos que postulam cargos majoritários, que devem deles se acautelar para não cometer destemperos ou deslizes, mesmo que estes sejam transbordamentos do calor emocionante da disputa eleitoral.

Permita-me, caro colega senador Delcídio, nada obstante a distância que nos separa pela doutrina petista que você agasalha, mesmo reconhecendo que não é a sua, sugerir-lhe ao que você é, como excelente parlamentar pelo nosso Estado, servir-lhe sempre, razão por que nosso eleitorado, reconhecido como é, irá mantê-lo no Senado da República nos próximos quatro anos.

Não exagere Senador na dose de suas declarações eleitorais!

As eleições passam, os nomes que a disputam são guardados na memória e as instituições ficam.

*Ruben Figueiró é Senador da República (PSDB/MS)

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Artigo: Hércules para limpar a sujeira

*Ruben Figueiró

            Ao iniciar estas linhas veio-me à memória um texto da mitologia grega quando foram entregues a Hércules cinco missões desafiadoras. Uma delas - a mais significativa - foi a de limpar os estábulos do rei Augias. Missão nada agradável, quase um castigo, um teste à sua lealdade a princípios de extirpar a sujeira impregnada no ambiente real. Hércules cumpriu a ordem.

            Mutatis mutandis. Mudando de hora, ambiente e costumes, esta será uma das mais difíceis missões do nosso futuro presidente. As eleições de primeiro turno sinalizaram categoricamente que a população brasileira não está comprometida com as ações do lulo-petismo, desgastado pelo mofo que ocorre nos porões palacianos e que se tornou uma indignação nacional. Só os comprometidos com as benesses do poder o exaltam, mas o poço de suas vaidades está para secar.

            No próximo dia 26, teremos a chance de iniciar um novo tempo no Brasil, com a escolha de quem representa outras estratégias de ação governamental. A escolha principalmente daquele que vai promover o fim do aparelhamento do Estado e o real combate à corrupção. Aquele que pode retirar da política esse cheiro de azedo, de sujeira mal lavada ou escondida debaixo do tapete. O Brasil precisa de mudança verdadeira, de investimento em áreas fundamentais que impulsione o nosso desenvolvimento e promova a justiça social.

Uma coisa me preocupa, porém. Ao analisar a opção do eleitorado, causou-me espécie o número expressivo de abstenções (19,39%) e de votos brancos e nulos (cerca de 9,64%). O montante de quase 39 milhões de pessoas demonstra que a mensagem política não está chegando ao coração desses brasileiros. Mais ainda, especialistas analisam que parte dessas pessoas participou dos protestos de junho do ano passado. Gente que não se sente representada por ninguém e que até refuga essa representação. Ocorre, no entanto, que vivemos em uma democracia representativa e até hoje não surgiu ainda outra forma melhor de se governar respeitando os desejos heterogêneos de qualquer Nação.

Entendo que os partidos políticos, além da postulação de seu programa de governo, deveriam juntar-se à conclamação do Superior Tribunal Eleitoral para que o cidadão, tendo condições de votar, o faça e não fique em sua casa, não permaneça indiferente porque a sua omissão a este ato cívico poderá constituir-se num dano ao país e até em arrependimento pessoal.

Eu sempre me emociono diante da urna. Tenho esse sentimento desde a década de 50, quando comecei a votar. Claro que naquela época havia uma áurea muito mais formal ao ato. Os homens iam até terno numa reverência ao processo democrático. Era uma demonstração de respeito. Hoje está tudo muito diferente... Mesmo assim, aos 83 anos, não sou mais obrigado a votar, mas desse direito não abro mão de forma alguma.

            Não creio que esses quase 30% de brasileiros que se abstiveram de escolher os futuros dirigentes do país ou de seus Estados o tenham feito apenas por indiferença ou manifestação de repúdio ao processo. Alguns também por causa dessa lei eleitoral draconiana que impede, por exemplo, o voto em trânsito para todos os cargos eletivos. Por isso apresentei um projeto de lei para que aqueles que estejam fora do seu domicílio eleitoral no dia do pleito possam exercer o legítimo direito que a Constituição lhes consagra em relação a todos os cargos eletivos.

Minha proposta já foi aprovada pelo Senado e está em discussão na Câmara dos Deputados. Espero que o PLS 130/2013 garanta o voto em trânsito desde o presidente da República ao vereador já nas próximas eleições.

*Ruben Figueiró é senador da República pelo PSDB-MS