segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Artigo: Hércules para limpar a sujeira

*Ruben Figueiró

            Ao iniciar estas linhas veio-me à memória um texto da mitologia grega quando foram entregues a Hércules cinco missões desafiadoras. Uma delas - a mais significativa - foi a de limpar os estábulos do rei Augias. Missão nada agradável, quase um castigo, um teste à sua lealdade a princípios de extirpar a sujeira impregnada no ambiente real. Hércules cumpriu a ordem.

            Mutatis mutandis. Mudando de hora, ambiente e costumes, esta será uma das mais difíceis missões do nosso futuro presidente. As eleições de primeiro turno sinalizaram categoricamente que a população brasileira não está comprometida com as ações do lulo-petismo, desgastado pelo mofo que ocorre nos porões palacianos e que se tornou uma indignação nacional. Só os comprometidos com as benesses do poder o exaltam, mas o poço de suas vaidades está para secar.

            No próximo dia 26, teremos a chance de iniciar um novo tempo no Brasil, com a escolha de quem representa outras estratégias de ação governamental. A escolha principalmente daquele que vai promover o fim do aparelhamento do Estado e o real combate à corrupção. Aquele que pode retirar da política esse cheiro de azedo, de sujeira mal lavada ou escondida debaixo do tapete. O Brasil precisa de mudança verdadeira, de investimento em áreas fundamentais que impulsione o nosso desenvolvimento e promova a justiça social.

Uma coisa me preocupa, porém. Ao analisar a opção do eleitorado, causou-me espécie o número expressivo de abstenções (19,39%) e de votos brancos e nulos (cerca de 9,64%). O montante de quase 39 milhões de pessoas demonstra que a mensagem política não está chegando ao coração desses brasileiros. Mais ainda, especialistas analisam que parte dessas pessoas participou dos protestos de junho do ano passado. Gente que não se sente representada por ninguém e que até refuga essa representação. Ocorre, no entanto, que vivemos em uma democracia representativa e até hoje não surgiu ainda outra forma melhor de se governar respeitando os desejos heterogêneos de qualquer Nação.

Entendo que os partidos políticos, além da postulação de seu programa de governo, deveriam juntar-se à conclamação do Superior Tribunal Eleitoral para que o cidadão, tendo condições de votar, o faça e não fique em sua casa, não permaneça indiferente porque a sua omissão a este ato cívico poderá constituir-se num dano ao país e até em arrependimento pessoal.

Eu sempre me emociono diante da urna. Tenho esse sentimento desde a década de 50, quando comecei a votar. Claro que naquela época havia uma áurea muito mais formal ao ato. Os homens iam até terno numa reverência ao processo democrático. Era uma demonstração de respeito. Hoje está tudo muito diferente... Mesmo assim, aos 83 anos, não sou mais obrigado a votar, mas desse direito não abro mão de forma alguma.

            Não creio que esses quase 30% de brasileiros que se abstiveram de escolher os futuros dirigentes do país ou de seus Estados o tenham feito apenas por indiferença ou manifestação de repúdio ao processo. Alguns também por causa dessa lei eleitoral draconiana que impede, por exemplo, o voto em trânsito para todos os cargos eletivos. Por isso apresentei um projeto de lei para que aqueles que estejam fora do seu domicílio eleitoral no dia do pleito possam exercer o legítimo direito que a Constituição lhes consagra em relação a todos os cargos eletivos.

Minha proposta já foi aprovada pelo Senado e está em discussão na Câmara dos Deputados. Espero que o PLS 130/2013 garanta o voto em trânsito desde o presidente da República ao vereador já nas próximas eleições.

*Ruben Figueiró é senador da República pelo PSDB-MS

                 

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