Lembro,
com orgulho e saudade, da minha convivência de mais de meio século com este
valoroso homem público. Convivência iniciada lá pela metade dos anos 50 e que
se espraiou em embates acadêmicos, entreveros estudantis nas ruas e praças da
Cidade Maravilhosa contra o que entendíamos ser os desmandos dos governos,
algumas vezes revidados com cassetetes no “lombo”. Em assembleias estrepitosas
da União Nacional dos Estudantes e da Associação Mato-grossense dos Estudantes,
naquela exaltação tão natural da mocidade, em que se forjam, com a resistência
do bronze, ideais que permitiram a valia dos postulados democráticos e
fortaleciam aqueles princípios sagrados que trazemos de nossos lares.
Fortalecidos pela consciência universitária, eu e Ramez voltamos para nossa terra. Ele, para Três Lagoas; eu, para Campo Grande. Lá militamos na política sob a mesma bandeira: a União Democrática Nacional (UDN), amálgama que trazíamos das lutas estudantis da eterna vigilância. Nessa sigla, tínhamos as lideranças de eminentes homens públicos de expressão entre seus pares, que têm passagem marcante no Congresso Nacional e registro na história da democracia em nosso País, tais como Vespasiano Martins, Fernando Corrêa da Costa, José Fragelli, José Garcia Neto e Saldanha Derzi.
Graças à sua fulgurante inteligência, cultura jurídica e verbo fácil, de promotor de Justiça, Ramez logo se tornou prefeito de Três Lagoas. Depois, foi deputado e relator-geral da Constituinte estadual em 1979; Secretário Estadual de Justiça; vice-governador e Governador; Superintendente da Sudeco; Senador; Ministro da Integração Nacional e Presidente do Senado, posto que ocupou num momento extremamente difícil da história da Alta Casa do Congresso Nacional. Tebet foi o elo de conciliação. A sua presença no Senado permitiu que se acalmassem os ânimos, que se restabelecesse a cordialidade entre os pares. Isso foi um fato extremamente importante na sua trajetória política e se tornou um marco áureo na sua vida pública.
Ramez e eu caminhamos juntos, partilhamos, o mais das vezes, por pedregulhos nesses domínios terrestres da vida pública e neste jamais nos separamos, eis que o amálgama que nos unia era imantado por ideais para encarar os interesses traiçoeiros que a militância política nos leva a enfrentar. Separamo-nos, muito tristemente para mim, quando fui, com um rasgo de pesar e de lágrimas, levar o meu adeus ao Ramez, ainda com os derradeiros lampejos de vida em sua casa, em seu quarto, o meu abraço de despedida eterno.
*Ruben
Figueiró é senador pelo PSDB-MS