quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Artigo: Achacar, não!

*Ruben Figueiró

No próximo dia 20 o Congresso Nacional vai reunir-se para votar os vetos presidenciais publicados a partir de julho deste ano. Será a demonstração de que o Parlamento não ficará mais à mercê da vontade presidencial e responderá à altura quando a decisão discricionária da chefe do Executivo se sobrepuser ao bom senso.

O veto ao projeto de lei complementar 198/2007 que acabava com a multa adicional de 10% do FGTS pago pelas empresas nos casos de demissão sem justa causa é um exemplo do que chamei de falta de bom senso.

Sou solidário às entidades empresariais que repudiaram a decisão e declaro que votarei pela derrubada de tal veto. Explico o porquê:

A multa adicional de 10% (além da já existente de 40%) sobre o saldo do FGTS foi criada em 2001 para zerar o rombo decorrente de decisão judicial que obrigou o governo a compensar o fundo pelas perdas relativas aos planos Verão, no governo Sarney, e Collor I.

Ocorre que passivo do Fundo, estimado à época em R$ 42 bilhões, já foi liquidado ao longo desses 12 anos e as contas do FGTS foram reequilibradas. Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI) a manutenção desta cobrança -- que é paga ao governo e não ao trabalhador -- continuará a representar um ônus de R$ 270 milhões por mês ao empresariado, cerca de R$ 3 bilhões por ano.

Ora, o governo federal não quer abrir mão deste montante de recursos que emprega em projetos sociais como o Minha Casa, Minha Vida. O problema é que a conta está sendo jogada nas costas do empresariado, que para arcar com o excesso de encargos tributários acaba deixando de investir na expansão de negócios que beneficiariam a economia nacional. E pior, a manutenção da cobrança de uma multa para cobrir um rombo inexistente nada mais é do que uma forma de achacar o empresariado.

Assim, o Executivo age de forma incoerente e na contramão do compromisso de incentivar a competitividade e reduzir a carga tributária do Brasil. O governo federal está se locupletando indevidamente, tirando dinheiro das empresas e dos investimentos, num instante de trovoadas ameaçadoras que estão próximas de um vendaval que poderá levar o País a uma desaceleração na sua atividade econômica ainda mais aguda.

O engraçado é que o Executivo Federal dá com uma mão e tira com a outra. Age de maneira contraditória e, é claro, midiática, ao anunciar que está tirando encargos da folha de pagamento de mais setores da economia, mas, por outro lado, veta um projeto de lei, que extinguia uma cobrança que já poderia ser considerada imoral, por se tratar de uma lei que foi feita provisoriamente, com a finalidade específica de pagar expurgos.

Segundo a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), a carga tributária hoje consome 37% das riquezas produzidas no Brasil. É passada a hora de fazermos uma reforma tributária séria, efetiva, e responsável.

Neste caso específico, não faz sentido manter uma cobrança de forma injusta, prejudicando, em última instância a geração de emprego e renda, novos investimentos e o aumento da própria atividade econômica.

Pelo respeito à iniciativa privada, não ao veto presidencial!
 

*Ruben Figueiró é senador pelo PSDB-MS

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Artigo: Diálogo, diálogo, sempre diálogo

*Ruben Figueiró

Sem sombra de dúvida, a proclamação do diálogo foi a principal mensagem deixada pelo Papa Francisco durante Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro.

Ainda estamos inebriados pelas inúmeras mensagens nobres, iluminadas e sensatas proferidas durante um dos acontecimentos históricos mais importantes do Brasil contemporâneo, que trará frutos não só no campo espiritual e religioso, como também no político. O Papa não se furtou a falar de temas polêmicos e candentes da nossa realidade como violência, consumismo, miséria, ética, corrupção, oportunidades, solidariedade e igualdade.

Não foi à toa que este homem simples, com sua mensagem direta e pensamento translúcido, encantou a todos.

Independentemente do conteúdo de sua mensagem ficou clara a defesa pelo diálogo exaustivo entre pensamentos opostos; o respeito pelo outro; a tentativa de ouvir as razões do interlocutor não para julgá-lo e sim compreendê-lo. Demonstrou que essa é a base do respeito mútuo: Ouvir e dialogar.

Sou católico praticante e nos meus mais de 80 anos de vida jamais esperava ver um Papa com tamanho despojamento, com tamanha abertura de espírito, com igual demonstração de fé nos homens e mulheres que sonham com a construção de um mundo melhor. Sua visita ao País foi marcante e serviu para delimitar mudanças significativas da Igreja. Falou da necessidade de estabelecer um contato direto e de aproximação com os fieis.

É inevitável fazermos uma reflexão a respeito do momento político em que recebemos a visita do Papa, com a população e especialmente a juventude, expressando seus anseios nos inúmeros protestos de rua. Francisco estimulou a "rebeldia" juvenil, mas condenou a manipulação e, neste caso, podemos dizer que deixou o recado às autoridades públicas de que é necessário dialogar mais com a sociedade civil.

A partir de agora, quando nos debruçarmos sobre os grandes acontecimentos que marcaram a nossa história em junho e julho de 2013, teremos que, obrigatoriamente, analisar as manifestações populares e o encontro de mais de três milhões de pessoas com o Papa Francisco sob o prisma de um grande movimento social que deseja mais ética, mais espiritualidade, mais compreensão, mais tolerância e, acima de tudo, mais diálogo.

Ao contrário de algumas opiniões que li, não entendo que a crise de representatividade demonstra que os políticos brasileiros estão distantes da população. Não, os políticos continuam cumprimentando eleitores em suas bases eleitorais, só que boa parte deles o faz com ouvidos moucos. É preciso passar a ouvir com o coração, transformar as demandas sociais em ações reais.

O Papa mostrou com insofismável clareza que o grande líder prescinde de pompas, de grandes aparatos de segurança, de ostentação e mistificações midiáticas. Mostrou com exemplos que os verdadeiros líderes e estadistas podem ser profundos e sábios, e ao mesmo tempo compreensíveis, calorosos e carismáticos.

As palavras deixadas por Francisco devem servir para refletirmos sobre o rumo que desejamos para a nossa sociedade. Seria muito importante que esta mensagem do diálogo tivesse eco entre as autoridades e os homens públicos do nosso país.

*Ruben Figueiró é senador pelo PSDB-MS