segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Artigo: Diálogo, diálogo, sempre diálogo

*Ruben Figueiró

Sem sombra de dúvida, a proclamação do diálogo foi a principal mensagem deixada pelo Papa Francisco durante Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro.

Ainda estamos inebriados pelas inúmeras mensagens nobres, iluminadas e sensatas proferidas durante um dos acontecimentos históricos mais importantes do Brasil contemporâneo, que trará frutos não só no campo espiritual e religioso, como também no político. O Papa não se furtou a falar de temas polêmicos e candentes da nossa realidade como violência, consumismo, miséria, ética, corrupção, oportunidades, solidariedade e igualdade.

Não foi à toa que este homem simples, com sua mensagem direta e pensamento translúcido, encantou a todos.

Independentemente do conteúdo de sua mensagem ficou clara a defesa pelo diálogo exaustivo entre pensamentos opostos; o respeito pelo outro; a tentativa de ouvir as razões do interlocutor não para julgá-lo e sim compreendê-lo. Demonstrou que essa é a base do respeito mútuo: Ouvir e dialogar.

Sou católico praticante e nos meus mais de 80 anos de vida jamais esperava ver um Papa com tamanho despojamento, com tamanha abertura de espírito, com igual demonstração de fé nos homens e mulheres que sonham com a construção de um mundo melhor. Sua visita ao País foi marcante e serviu para delimitar mudanças significativas da Igreja. Falou da necessidade de estabelecer um contato direto e de aproximação com os fieis.

É inevitável fazermos uma reflexão a respeito do momento político em que recebemos a visita do Papa, com a população e especialmente a juventude, expressando seus anseios nos inúmeros protestos de rua. Francisco estimulou a "rebeldia" juvenil, mas condenou a manipulação e, neste caso, podemos dizer que deixou o recado às autoridades públicas de que é necessário dialogar mais com a sociedade civil.

A partir de agora, quando nos debruçarmos sobre os grandes acontecimentos que marcaram a nossa história em junho e julho de 2013, teremos que, obrigatoriamente, analisar as manifestações populares e o encontro de mais de três milhões de pessoas com o Papa Francisco sob o prisma de um grande movimento social que deseja mais ética, mais espiritualidade, mais compreensão, mais tolerância e, acima de tudo, mais diálogo.

Ao contrário de algumas opiniões que li, não entendo que a crise de representatividade demonstra que os políticos brasileiros estão distantes da população. Não, os políticos continuam cumprimentando eleitores em suas bases eleitorais, só que boa parte deles o faz com ouvidos moucos. É preciso passar a ouvir com o coração, transformar as demandas sociais em ações reais.

O Papa mostrou com insofismável clareza que o grande líder prescinde de pompas, de grandes aparatos de segurança, de ostentação e mistificações midiáticas. Mostrou com exemplos que os verdadeiros líderes e estadistas podem ser profundos e sábios, e ao mesmo tempo compreensíveis, calorosos e carismáticos.

As palavras deixadas por Francisco devem servir para refletirmos sobre o rumo que desejamos para a nossa sociedade. Seria muito importante que esta mensagem do diálogo tivesse eco entre as autoridades e os homens públicos do nosso país.

*Ruben Figueiró é senador pelo PSDB-MS

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